MUNICÍPIOS

Mandante da morte do promotor de Itaíba é condenado a 50 anos de prisão

Zé Maria foi considerado culpado pelo júri de mandar matar promotor. José Marisvaldo foi condenado a 40 anos e 8 meses; Adeíldo foi absolvido.


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  Fonte: G1 PE

  Foto: NE TV Recife

Postado em: 28/10/2016 às 14:09:28

Dois dos três réus julgados por participação no assassinato do promotor de Itaíba, Thiago Faria Soares, ocorrido em outubro de 2013, foram condenados nesta sexta-feira (28). O veredicto foi conhecido na madrugada desta sexta-feira, por volta das 4h30, na sede da Justiça Federal, no bairro do Jiquiá, Zona Oeste do Recife. José Maria Pedro Rosendo Barbosa, acusado de ser o mandante do crime, foi condenado a 50 anos e 4 meses de reclusão em regime fechado pelo homicídio doloso do promotor e pelas duas tentativas de homicído contra Mysheva Martins, noiva de Thiago, e Adautivo Martins, tio dela. [Veja vídeo acima]

José Marisvaldo Vitor da Silva, acusado de ter seguido e indicado aos executores a localização do promotor na manhã do crime, foi condenado a 40 anos e 8 meses de prisão pelos mesmos crimes. Como já cumpriram parte da pena preventivamente, José Maria Rosendo terá a cumprir ainda 49 anos e 4 meses, enquanto Marisvaldo deverá ficar 38 anos, 8 meses e um dia atrás das grades. O terceiro réu, Adeildo Ferreira dos Santos, que segundo o inquérito seria um dos três executores do crime, foi absolvido.

Bastante emocionada, a mãe do promotor, Maria do Carmo Soares, comemorou a decisão. "São quase cinco da manhã. Eu estou aqui há quatro dias e agora no final receber essa notícia que eu acho muito justa... Meu filho merecia justiça e ela começou a ser feita. Ainda temos dois julgamentos e eu espero êxito nos outros dois também", ponderou.

É um ciclo mais ou menos terminado, mas o coração continua despedaçado e muito"
Maria do Carmo Soares, mãe do promotor Thiago Soares Faria

Maria do Carmo afirmou que pretende acompanhar os próximos julgamentos. "Claro que vou, uma mãe não abandona o filho. Ele está aqui comigo e eu estou com ele", acrescentou. A mãe do promotor, por ora, retornará ao Rio de Janeiro, onde vive. Disse que o veredicto a ajudará a seguir em frente. "Totalmente em paz não, porque meu coração está despedaçado, pois eu não tenho meu filho em casa, mas eu volto assim... É um ciclo mais ou menos terminado, mas o coração continua despedaçado e muito", encerrou.

O irmão de Thiago, Daniel Faria Soares, também celebrou com emoção o resultado do julgamento. "Essa é pro meu irmão. A justiça foi feita. Ficou bem claro pra todo mundo, com provas bastante fortes, a culpa. Claro que ainda precisa ser feita [justiça] em outras partes, ainda temos uma pessoa foragida e uma pessoa falta ser julgada, mas me sinto muito satisfeito com a decisão da juíza. Fico feliz, porque meu irmão lá em cima poderá descansar em paz", salientou.

Daniel também destacou que se sente aliviado e vingado. "A dor não vai passar, é uma dor constante. Meu irmão é o meu maior orgulho... Eu amo você, Thiago Faria, onde você estiver... Me sinto vingado por um ato covarde que foi proferido contra ele. A gente vai levar ele com maior carinho, para sempre. Eu vou seguir tudo o que ele me ensinou, a determinação dele, todas as coisas boas que ele plantou vão ser seguidas por mim. Mas a dor não vai passar. A gente se sente um pouco aliviado, vamos seguir a vida, porque temos que seguir, com um pouco mais de conforto no nosso coração", encerrou.

O advogado da família, André Canuto, se disse satisfeito com o veredicto. "Acho que o resultado reflete o que eu já falava desde o primeiro dia. Que a prova dos autos eram contundentes. Que por mais que a defesa usasse de estratagemas e de teses mirabolantes para implantar dúvidas, eu aqui, durante o dia de hoje [quinta], várias vezes intervi para dizer que dúvidas não havia. Perícia, prova técnica... Além disso você tem provas contundentes do principal acusado, José Maria Rosendo, em vários momentos desse processo", explicou.

Sobre a absolvição de Adeíldo, disse que não irá recorrer da decisão. "Para nós, ele teve uma participação menos intensa como se pôde perceber ao longo do processo. Ele participou? Participou em alguma coisa sim, mas não o suficiente para fazer o conselho de sentença achar que ele deveria ser condenado. Então, espero que ele receba essa absolvição como uma segunda chance e tente encaminhar-se de maneira correta daqui pra frente", acrescentou.

Já a defesa dos dois acusados condenados afirmou que irá recorrer da decisão. “Nós não concordamos com esse resultado. Não é o que nós esperávamos. Existe um dos acusados que foi absolvido e nós entendemos que não havia justificativa para condenar nenhum deles. Não há prova consistente, não há nada convincente nesse processo. A ideia da defesa do Marisvaldo é recorrer, pois queremos ver o senso de justiça respeitado”, disse Anderson Flexa, advogado de José Marisvaldo. O advogado de Zé Maria, João Olímpio Valença, não concedeu entrevista, mas após o veredicto ele informou à juíza que deverá recorrer posteriormente.

Além dos três réus julgados, outras duas pessoas são acusadas de participação no assassinato. José Maria Domingos Cavalcante, também acusado ser um dos executores do promotor, teve seu processo desmembrado por falta de advogado e será julgado no dia 12 de dezembro. O quinto envolvido, Antônio Cavalcante Filho, está foragido.

Na quinta-feira (27), quarto dia do julgamento, o Ministério Público Federal (MPF) deu início à fase de debates. Quem falou em nome do órgão foi o procurador federal Bruno Costa Magalhães. Durante o seu depoimento, ele enfatizou que o único interessado na morte da vítima era o réu José Maria Pedro Rosendo Barbosa, apontado como o mandante do crime.

O procurador explicou que todas as outras linhas de investigação foram examinadas e posteriormente descartadas pela Polícia Civil e, em seguida, pela Federal, que concluiu a apuração do homicídio ocorrido em 14 de outubro de 2013. De acordo com o procurador, Thiago Faria atuou de maneira incisiva na imissão de posse da Fazenda Nova, onde Zé Maria morava e que foi desapropriada em favor de Mysheva, que arrematou em leilão 25 hectares da fazenda, incluindo a casa-sede.

Na sequência foi a vez dos advogados de defesa dos réus falarem. A defesa de José Maria Pedro Rosendo (Zé Maria), acusado de mandar matar o promotor Thiago Faria Soares, abriu suas três horas de debate enfatizando que não havia provas materiais que ligassem o fazendeiro ao crime. De acordo com o advogado João Olímpio, que defende Zé Maria, o único alvo dos executores era o promotor, e não a noiva, Mysheva Martins, e o tio dela, Adautivo.

Já o advogado José Rawlinson Ferraz disse que seu cliente, Adeildo Ferreira dos Santos, outro réu, não tinha antecedentes criminais. O defensor também minimizou a gravação telefônica entre Adeildo e José Maria Domingos Cavalcante, seu patrão, dias após o crime. No telefonema, Cavalcante afirma que foi "citado naquele negócio" e Adeildo diz que "não tem problema" e desliga logo depois. "A inocência dele está provada nos autos. Ele vai ter que pagar por uma ligação que Cavalcante fez para ele para falar de chuva", indagou. Cavalcante é o 4º réu do processo. Ele teve seu processo desmembrado e será julgado em dezembro.

O último advogado de defesa a falar foi Anderson Flexa, que defendeu o réu José Marisvaldo Vitor da Silva, acusado de seguir e apontar a localização do veículo onde estava o promotor. Flexa seguiu a linha dos outros defensores e frisou a falta de provas. "O Estado perde quando a qualidade da investigação não traz provas cabais. O que mais tem nesse processo são dúvidas. Não venham fazer justiça com subjetividade. Se tivesse sido bem feito, só estaríamos aqui pedindo uma pena menor", disse ele, que, assim como os advogados dos outros dois réus, pedia a absolvição de seu cliente por negativa de autoria.

Após a fala dos advogados, a fase de debate foi encerrada com a réplica e a tréplica das partes. Na sequência, os sete jurados foram para uma sala onde passaram cerca de duas horas. Lá preencheram um formulário e declararam os votos, sob os olhares da promotoria e da defesa. Por volta das 3h10, a juíza federal Amanda Torres de Lucena Diniz Araújo começou a redigir a sentença, que foi conhecida às 4h30.

Júri
O julgamento, que teve como réus José Maria Pedro Rosendo Barbosa, Adeildo Ferreira dos Santos e José Marisvaldo Vitor da Silva, começou na segunda-feira (24). A sessão teve início após os advogados entrarem com recursos para adiar o julgamento, que não foram aceitos.

Por falta de advogado, o quarto réu, José Maria Domingos Cavalcante, teve seu julgamento adiado para o dia 12 de dezembro deste ano. Os quatro são acusados pelos crimes de homicídio doloso e pela tentativa de homicídio contra Mysheva e seu tio, Adautivo Elias Martins. O quinto acusado, Antônio Cavalcante Filho, está foragido. Por isso, o processo dele foi desmembrado para não prejudicar o andamento do caso.

A decisão da Justiça sobre a pronúncia dos réus saiu no dia 17 de abril de 2015. O sorteio dos jurados que atuam na sessão aconteceu no dia 12 de setembro de 2016, às 10h, na sala de audiências da 36ª Vara Federal.

Na entrada do fórum, a mãe do promotor, Maria do Carmo Soares, que sempre evitou falar sobre o assunto, fez um desabafo, falando sobre a dor que ainda sente. O depoimento que abriu a sessão foi o de Mysheva, que falou na condição de vítima. Em sua fala, ela citou a compra de parte de uma fazenda como o principal motivo da desavença que teria levado à morte do promotor, em outubro de 2013. Ela estava no carro com Thiago no momento do atentado. “Eu estou viva porque Deus existe”, declarou emocionada.

Na quarta-feira (26), os réus José Maria Pedro Rosendo, José Marisvaldo Vítor da Silva e Adeildo Ferreira dos Santos foram interrogados. O primeiro que prestou depoimento foi José Maria, apontado como o mandante do crime. O testemunho durou cinco horas. Ele negou qualquer envolvimento no assassinato e voltou a levantar suspeitas contra Mysheva Martins, noiva da vítima.

O segundo réu interrogado no julgamento da morte do promotor Thiago Faria Soares preferiu ficar em silêncio em alguns momentos e não responder às indagações. José Marisvaldo Vitor da Silva, acusado de ter seguido e indicado aos executores a localização do promotor na manhã do crime, disse não se lembrar de alguns detalhes do dia 14 de outubro de 2013, mas negou participação no assassinato, assim como o terceiro réu, Adeildo Ferreira dos Santos. [Veja vídeo abaixo]

O interrogatório durou cerca de três horas. "Sou pobre, estou preso e minha família está passando dificuldade. Que interesse eu teria de matar o promotor?", indagou José Marisvaldo durante o depoimento. O acusado contou que, no dia do assassinato, tinha ido a Alagoas para negociar palma para o gado que seu patrão, José Maria Rosendo, criava na Fazenda Nova.

O terceiro a falar no júri foi Adeildo Ferreira dos Santos, que seria o segundo a ser ouvido, mas passou mal, foi socorrido e ficou para ser interrogado por último. Aparentando nervosismo, o terceiro réu pediu diversas vezes que a pergunta fosse repetida e se resumiu a afirmar que não recordava detalhes do dia.

Entenda o caso
O crime ocorreu em 14 de outubro de 2013. O promotor Thiago Faria Soares foi morto quando seguia de Águas Belas para Itaíba, cidade onde trabalhava, no Agreste de Pernambuco. Mysheva Freire Ferrão Martins, noiva do promotor na época, e Adautivo Martins, tio dela, também estavam no mesmo veículo, mas não foram atingidos pelos disparos.

A motivação, segundo a PF, envolveu uma disputa pelas terras da Fazenda Nova. O fazendeiro José Maria Barbosa perdeu a posse para a noiva do promotor, em um leilão da Justiça Federal, e teve que deixar o imóvel.

Em entrevista exclusiva à TV Globo, na época do crime, o fazendeiro negou ter cometido o homicídio. A Polícia Civil, que iniciou as investigações, apontou que Barbosa teria contratado o cunhado, Edmacy Ubirajara, para matar Thiago Faria. Ubirajara chegou a ser preso, mas foi liberado.

A investigação do homicídio foi transferida para a Polícia Federal em 13 de agosto de 2014, a pedido do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot. Por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a investigação da morte do promotor saiu das mãos da Polícia Civil e passou a ser de responsabilidade da PF.

Na última sexta-feira (21), Mysheva disse, em entrevista à TV Globo, que, desde que o crime aconteceu, a vida dela "se transformou num filme de terror". "A cidade inteira de Águas Belas sabe o bandido que Zé Maria de Mané Pedro é. O monstro que ele é e o inferno que ele tornou a minha vida", reiterou.

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