Mais de 500 pessoas da mesma família fazem Encontro dos Descendentes

Sertão de Alagoas. Há mais de 140 anos uma linda história começava a ser escrita. Luiz José Gregório, nascido em 1882. Francisca Maria dos Prazeres, nascida em 1883. Tempos depois, os destinos se cruzaram: jovens, se conheceram, se apaixonaram e se casaram.

Luiz Novo, como era conhecido, tinha o título de ‘um sertanejo iluminado’. Um homem além de seu tempo. Entre Santana do Ipanema e Olho D’Água das Flores, num sacrossanto pedaço de chão denominado Serrote Baixo, ele nasceu, viveu e criou toda família. Com Dona Chiquinha, mulher simples, de prendas domésticas, hábitos modestos e coração gigante, deixaram grandes memórias que são contadas até hoje pelos descendentes.

A família viveu no Sertão de Alagoas. Do casamento, nasceram nove filhos: Ulisses, Odilon, Domício, José Gregório, Maria Augusta, Isaura, Ismênia, Arnóbio e Beatriz. Os netos somaram 64 anos. Entre bisnetos, trinetos e tetranetos as contas se perdem.

Um dos netos, o Monsenhor José Augusto Silva, vigário-geral da Arquidiocese de Maceió, conta que a memória da família segue viva. Ao falar do avô, o religioso lembra o homem visionário pela educação que sempre sonhou com a formação de todos.

“Na fazenda, ele tinha um professor que ajudava com as primeiras letras. Influenciou muito todos os netos. A grande maioria foi à universidade. Era um homem forte, sonhador, de muitos valores e bastante conhecido na região. Tinha compromisso social e político”, disse o neto, lembrando que na família muitos trilharam caminho na política alagoana.

Luiz Novo era cidadão participante e comprometido com sua comunidade, associava a sua lida agrícola e pecuária, ou seja, o cultivo da lavoura e o manejo do gado, à função de Inspetor Escolar, o que o levava a percorrer a região montado em seu cavalo alazão, para interrogar alunos e professores das escolinhas municipais, a maioria, em salas improvisadas, nas fazendas da vizinhança.

As histórias em torno desse sertanejo destemido e original comporiam um grande livro e poderiam constituir-se em um projeto a ser realizado por seus descendentes, com a ajuda de todos aqueles que detêm um pouco da memória viva e guardam as lembranças de suas atitudes, seus valores, sua história.

A grande família não deixa os laços sanguíneos serem rompidos. Por isso, este ano vão realizar a 4ª edição do Encontro dos Descendentes de Luiz Novo e Francisca Maria. A grande confraternização, que acontecerá no sítio Maruim, Litoral Sul do Estado, e reunirá mais de 500 descendentes, entre netos, bisnetos, trinetos e tetranetos.

“A ideia de promover o encontro dos descendentes surgiu inicialmente de um dos nove filhos, Arnóbio Silva, que já faleceu. Ele transformou esse encontro numa realidade. Tudo é planejado por uma comissão organizadora composta por netos do casal”, acrescentou José Augusto Silva.

Ele conta que o encontro será marcado por um grande almoço, com homenagens aos avós, tios e apresentação da árvore genealógica da família. Segundo o monsenhor, há uma divisão de núcleos familiares e estes vão sendo responsáveis por atualizar esse mapeamento da família.

“Somos muitos e tão diversos, mas temos um chão em comum. Embora pertençamos biologicamente a uma mesma família, não é tão somente o laço consanguíneo que nos une. Há uma história - para muitos, vivida, e para tantos outros, ouvida, e tantas vezes repetida. Sim, há um laço mais forte que nos une. O tecido comum das lutas, desafios, conquistas e esperanças faz parte das nossas identidades”, disse emocionado.

A neta Sônia dos Anjos, uma das principais responsáveis pela realização e organização do evento, assinala que a programação contará com diversas atividades para movimentar os familiares de seus avós maternos. Já para a arquiteta e engenheira civil, Vilma dos Anjos, irmã de Sônia, que também integra a comissão organizadora, fala da satisfação com a realização dessa 4ª edição e não poupa elogios ao modo como tudo vem ocorrendo, principalmente pelo envolvimento e entusiasmo de todos. “Tenho absoluta certeza de que um momento de comunhão e celebração como este ficará marcado na vida de todos”.
Nesta quarta edição, inclusive, o grande encontro prestará uma homenagem especial ao Tio Arnóbio. O caçula dos nove filhos do casal-tronco foi o grande idealizador desses momentos que proporcionam tanta alegria, aconchego, felizes lembranças e muitos abraços em quem muito amamos.

“Para uma parte dos que hoje somos, os mais vividos, experimentam-se saudades. E como nos entenderemos, sem acolhermos tal caminho? E como as novas gerações poderão visitar suas raízes de forma saudável e agregar valores conquistados e que são de todos nós? Precisamos uns dos outros, para a mais ousada e bela tarefa do ser humano: compreender-se, harmonizar-se, amadurecer, ser feliz! Assim, propomos mais um grande Encontro da Família de Luiz Novo e Francisca. É nossa oportunidade de olhar para o outro como irmão, com essa dignidade e beleza que cada um tem. É a valorização da família, para não perdermos as raízes”, enfatizou Monsenhor José Augusto.