Homenagem ao músico José Braz dos Santos: o assessor de disciplina do saudoso Ginásio Dom Antônio Brandão
No 'pioneiro casarão verde e amarelo da Rua Cônego Jasson Souto' , Zé Braz comandava a impecável Banda Marcial nas antigas e memoráveis passeatas de 7 de Setembro, em Pão de Açúcar.
Fonte: Por Helio Fialho
José Braz dos Santos, conhecido como 'Zé Braz' Foto: Reprodução/Cortesia
Foi apenas em 1924, durante o governo de Arthur Bernardes, que esta data ganhou uma dimensão mais institucional com a criação do Dia da Pátria, celebrado em 7 de setembro. O início da Semana da Pátria, no Brasil, foi estabelecido em 1934 durante o governo de Getúlio Vargas. E até recentemente esta data era comemorada com muito respeito e as cores da Bandeira Nacional predominavam.
Apesar de muitos terem deixado de comemorar, por questões ideológicas, eu continuo a celebrar a Semana da Pátria (de 1 a 7 de Setembro). Afinal, a minha brasilidade é minha e de mais ninguém. Tenho os meus princípios cívicos, independentemente de quem esteja no comando do País. O meu patriotismo não está relacionado a partido e nem a liderança política porque já faz mais de meio século que preservo este sentimento.
Na minha fase escolar primária e, principalmente, durante a minha adolescência e nos primórdios da minha juventude, nas escolas nas quais estudei, eu sempre participava das comemorações alusivas à Semana da Pátria. Nessa época, aconteciam as patrióticas solenidades e os grandes desfiles cívicos com a participação das escolas. E eu estava lá, exaltando a nossa bandeira, cantando hinos e desfilando pelas ruas da cidade.
E foi no Ginásio Dom Antônio Brandão, onde estudei e, posteriormente, lecionei as disciplinas Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política Brasileira, duas importantes matérias que, de maneira lamentável, foram excluídas do currículo escolar.
Na Constituição Federal de 1988 não há nenhuma menção à sua obrigatoriedade e, em 1993, elas foram extintas pelo presidente Itamar Franco, até serem definitivamente banidas do currículo escolar em 1996 na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que estabeleceu os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).
Para quem nunca estudou estas matérias, é importante destacar que Educação Moral e Cívica é uma disciplina que visa promover o desenvolvimento de valores éticos e morais, bem como o conhecimento e a prática dos princípios da cidadania. E Organização Social e Política Brasileira (OSPB) é uma disciplina que ensina aos alunos informações importantes sobre legislação brasileira e organização sociopolítica e econômica do País. Por isso, as duas disciplinas estão fazendo muita falta, pois hoje a malandragem e a violência dominam nas escolas.
Não posso negar que foi no Ginásio Dom Antônio Brandão onde desenvolvi o meu sentimento patriótico e aprendi a valorizar os Símbolos Nacionais: a Bandeira, o Hino, as Armas e o Selo. Foi no “pioneiro casarão verde e amarelo, da Rua Cônego Jasson”, onde aprendi a amar as cores verde, amarela, branca e azul anil, que representam o meu gigante Brasil.
Para mim, é praticamente impossível não relacionar às comemorações alusivas à Semana da Pátria aos saudosos e imortalizados diretores (e professores) doutor Átila Pinto Machado e Maria Carmelita Melo Machado, dois grandes entusiastas das antigas passeatas cívicas de Pão de Açúcar.
E por falar em Semana da Pátria e nestes dois imortalizados educadores, quero, aqui, também, reconhecer a participação brilhante do músico José Braz dos Santos, conhecido popularmente como “Zé Braz” que, naquela época, exercia a função de assessor de disciplina do educandário cenecista da Terra de Jaciobá.
Foto: Bandeira do Brasil/ Reprodução/Nova escola/Shutterstock
Minha homenagem ao músico "Zé Braz"
José Braz dos Santos, além de ter sido o músico responsável pela formação e ensaios da Banda Marcial do Ginásio Dom Antônio Brandão, nos idos de 1970 e 1980, ele era uma pessoa que gozava da amizade e da confiança de doutor Átila. E por ser uma pessoa muito talentosa e versátil, ele tinha mil e uma utilidades no educandário, isto é, desde a formação e e os ensaios da tradicional banda marcial até os consertos de máquinas, equipamentos e ligações elétricas.
E, por isso, certa vez, na sala da diretoria da escola, ouvi alguns gracejos direcionados ao assessor Zé Braz, que reagia sempre com bom-humor. “Zé Braz consertou uma das máquinas de datilografia pertencentes ao Ginásio e, apesar de ter sobrado 36 peças, que ele não conseguiu colocá-las em seus respecitivos lugares, a máquina está funcionando perfeitamente. Depois de ter consertado, Zé Braz mostrou as peças que sobrararam e justificou, dizendo que o fabricante (Remington) havia colocado peças desnecessárias na máquina” (rsrsrsrs). E passados alguns anos, já sendo seu vizinho, nos idos de 1980, quando morei nas proximidades da agência dos Correios, tive a ousadia de perguntar ao amigo Zé Braz sobre esta história do conserto da máquina que pertencia ao Ginásio Dom Antônio Brandão. Ele confirmou a veracidade dos fatosdizendo que a ausência das 36 peças não comprometeu o funcionamento da máquina. (rsrsrsrsrs).
E para os desfiles impecáveis do Ginásio Dom Antônio Brandão, os homens vestiam calça e camisa cáqui e as mulheres trajavam blusa branca e saia azul marinho. O logotipo da escola, estampado no bolso da blusa, era bordado com linha azul. E orgulhoso desfilava Zé Braz, uniformizado com camisa branca (comprida), calça azul marinho, sapatos pretos. Inicialmente todos os integrantes da banda marcial vestiam o unforme nestas cores. Ele destacava-se entre os demais componentes da banda porque era o regente. Seu instrumento brilhava muito com o reflexo do sol e isso chamava a atenção do público. Alí estava Zé Braz manifestando seu patriotismo e cumprindo sua missão cívica com dedicação extrema e enorme responsabilidade. E dois principais motivos exigiam dele a impecabilidade na apresentação da tradicional banda marcial: o perfeccionismo que doutor Átila carregava consigo e a grande fama da banda do Ginásio, conquistada desde os tempos do saudoso diretor e professor Antônio de Freitas Machado.
No exercício de sua função de assessor de disciplina, quando ele direcionava uma dura advertência para os alunos, em sala de aula, costumava fazer uso da frase: “É como o meu pai dizia: educação é dote!”
Como é agradável mergulhar no passado e nas comemorações da Semana da Pátria, e poder recordar os grandes desfiles do Ginásio Dom Antônio Brandão. E Zé Braz exibindo sua versatilidade, tocando seus “metais” preferidos (trompete, trombone de vara e tuba), aprendizado que obteve, desde seus nove anos de idade, estudando música com o saudoso e imortalizado Maestro Manoel Vitorino Silva, o popular “Mestre Nozinho”.
Ele costumava dizer que a Banda Musical Guarany e o Ginásio Dom Antônio Brandão eram seu maior orgulho.
Também tenho recordações de Zé Braz integrando um grupo de músicos pão-de-açucarenses, vinculados à tradicioanal escola da Sociedade Musical Guarany, abrilhantando festejos carnavalescos em Pão de Açúcar, Santana do Ipanema, Mata Grande, Demiro Gouveia, Água Branca, Piranhas e outras cidades do sertão. Na época (idos de 1970 e 1980), foram responsáveis por estes grupos de músicos, o maestro Afrânio Menezes (“Bubu”), o professor Manoel Barroso (“Mané Cego”) e o professor Paulo Henrique Lima Brandão. Eles eram contradados pelas prefeituras.
Foto: Músicos de Pão de Açúcar, em uma balsa, durante uma Procissão de Bom Jesus dos Navegantes.
O músico Zé Braz, ao centro, está segurando um instrumento de sopro. Foto: Reprodução/Cortesia.
“Água que passarinho não bebe”
Zé Braz era apreciador de aguardente de cana. E quando cismava, tomava todas. Talvez, este tenha sido o motivo principal que o impediu de voar para lugares mais distantes, durante sua juventude, para formar em renomadas bandas institucionais. Em razão da “água que passarinho não bebe”, acredito que ele tenha, assim como excelentes músicos pão-de-açucarenses, perdido algumas oportunidades para ascender nesta profissão. Ele, talvez, tenha ficado acomodado em Pão de Açúcar e não tenha ambicionado ficar famoso como músico, em razão da bebida e, também, do apego à sua terra e à sua família. Isso aconteceu com excelentes músicos da Terra de Jaciobá, os quais morreram sem nunca ter arredado os pés de sua terra natal. Ainda bem que Zé Braz, já um pouco distante de sua mocidade, libertou-se da bebida e ganhou nova vida.
O músico na Igreja Batista
Zé Braz, em 1984, aproximou-se do Pastor Paulo Alves Feitosa e muito contribuiu com seus múltiplos serviços profissioanais na construção do templo da Primeira Igreja Batista de Pão de Açúcar. Nessa época, ele residia na casa do velho Antônio, seu pai, na Avenida Manoleito Bezerra Lima. A casa ficava vizinha da residência do meu compadre “Marcos Sapateiro” (in memoriam) e da minha comadre Jesus (in memoriam). A minha residência ficava bem vizinha da agência dos Correios. Nesta época, o pastor Paulo Feitosa, que era carioca e cidadão muito decente, frequentava assiduamente a oficina de calçados do meu compadre Marcos Sapataeiro. E lá, quase que diariamente, sempre tínhamos um dedo de prosa. Zé Braz sempre frequentava, também, para contar suas histórias e aventuras.
Foi nessa época, que ele começou a fazer parte da Primeira Igreja Batista e a namorar a jovem Girleide Feitosa, uma das filhas do casal Ranufo e dona Loudes (im memoriam).
É importante registrar aqui que o primeiro casamento realizado no templo da Primeira Igreja Batista de Pão de Açúcar foi do casal José Braz dos Santos e Girleide Feitosa, sendo a celebração feita pelo Pastor Paulo. Foram os padrinhos: doutor Átila e a senhora Carmelita; doutor Massilon e a senhora Cláudia; José Gomes Filho (gerente local da agência da Caixa Econômica Federal) e sua esposa Judite. Deste matrimônio nasceram os filhos: Paulo André e Kilvya Ruth. Nesse período, Zè Braz trabalhou como vigilante da referida agência bancária.
É importante destacar que José Braz dos Santos teve mais seis filhos de relacionamentos anteriores ao casamento com Girleide Feitosa.
Casamento do casal José Braz e Girleide Feitosa, celebração feita pelo Pastor Paulo Alves Feitosa. Foto: reprodução/Cortesia/Girleide Feitosa
Mudança para o Rio de Janeiro
Em 1991, a convite do pastor Paulo Alves Feitosa e família, o casal Zé Braz e Girleide deixou Pão de Açúcar e fixou residência no Rio de Janeiro, onde ele, já com 46 anos de idade, trabalhou como eletricista, pedreiro e foi, ainda, zelador, durante 10 anos, da Primeira Igreja Batista do Cabral, em Nilópolis, na qual cantava no coral. E, na igreja, devido às suas muitas habilidades, ele era conhecido como “O irmão que faz tudo”.
Segundo sua esposa Girleide Feitosa, os filhos do casal cresceram frequentando a Igreja Batista, no Rio de Janeiro, cidade onde vivem e trabalham até hoje, apesar de Girleide ter retornado para Pão de Açúcar.
Zé Braz fez muitas amizades, com pessoas dos diversos segmentos religiosos, na cidade de Nilópoles. Quando ele adoeceu e submeteu-se a tratamento renal, sempre dizia para a sua esposa e filhos: “Se eu morrer aqui no Rio de Janeiro, desejo que estejam presentes pessoas de todas as religiões, com as quais construí muitas amizades”. E assim aconteceu. No dia 2 de fevereiro de 2012, aos 67 anos incompletos, em consequência de AVC, Jesus o chamou para cantar no coral celestial. E muita gente compareceu ao cortejo fúnebre, para dar adeus ao pão-de-açucarense que sabia fazer de tudo um pouco e que morou no Rio de Janeiro durante mais de 20 anos.
Há 12 anos Zé Braz não mais se encontra fisicamente entre nós, porém, enquanto existir uma banda marcial a tocar durante a Semana da Pátria (7 de Setembro) e ao menos um músico soprar um clarim, executando hinos e dobrados, Zé Braz será sempre lembrado porque ele está imortalizado na memória de muitos, principalmente das pessoas que o conheceram e com ele participaram das antigas passeatas cívicas de Pão de Açúcar, abrilhantada pelo amado e saudoso Ginásio Dom Antônio Brandão.
Comentários
Escreva seu comentário