Com 64 anos de história, Nunes Ciclopeças testemunha desenvolvimento de Arapiraca
Série de Especiais: Centenário do Comércio de Arapiraca
Fonte: Sindlojas Arapiraca - Por Patrícia Bastos
Série de Especiais: Centenário do Comércio de Arapiraca Foto: Reprodução/Sindlojas Arapiraca/Acervo pessoal
Quando a Nunes Ciclopeças chegou ao atual endereço, na Rua Dom Vital, a vista da loja era muito diferente do que se vê hoje em dia. Em vez de outros estabelecimentos comerciais e os fundos da Concatedral, o que havia era um cemitério.
O fundador da loja, José Nunes da Silva (1921-2005), e seus filhos testemunharam grandes transformações na arquitetura e da sociedade nas últimas seis décadas. Desde a transferência do cemitério, a construção e demolição da primeira catedral e a edificação da Concatedral Nossa Senhora do Bom Conselho, além do surgimento e alterações em outros estabelecimentos comerciais do entorno.
Zé Nunes, como era mais conhecido, era arapiraquense e casou-se com Antônia Angelina da Silva (1922-1971), nascida em Palmeira dos Índios. Tiveram 11 filhos: Braulino Nunes da Silva, Iraci Nunes da Silva, Adabel Nunes da Silva, Alice Nunes da Silva, Odilon Nunes da Silva, Vital Nunes da Silva, Maria José da Silva Nunes, Dalila Nunes da Silva, Dimas Nunes da Silva, Hugo Nunes da Silva e José Nunes da Silva Filho. Após ficar viúvo, casou-se novamente e desse casamento nasceram Glauko Tibério Nunes, Maria Bernadete Nunes, Flávio Nunes Lima e José Nunes da Silva Júnior.
No final da década de 1950, Zé Nunes e a esposa moravam com nove dos seus filhos em uma propriedade rural na Mata da Tereza, onde atualmente fica o bairro Baixa Grande. A família se mudou para uma casa localizada no Largo Dom Fernando Gomes, comprada ao pai do Anísio do Cinema, que também vendeu a loja.
A “Loja das Bicicletas” foi inaugurada em janeiro de 1960, e além do carro-chefe do estabelecimento, vendia também peças, rádios de pilha, fogões, aparelhos de televisão, pilhas, ferro para construção civil, madeira para confecção de móveis e botijões de gás.
Parte desses produtos acabaram virando outra loja, o Depósito de Madeiras Amazônia, cujo proprietário, Olival Pedro da Silva, era genro de Zé Nunes. Já os botijões de gás, algum tempo depois passaram a ter um representante próprio em Arapiraca: Antônio Vital, também muito conhecido como comerciantes de móveis naquele período.
Mas, apesar de restar a Zé Nunes a venda de bicicletas e de peças, o comércio continuou indo bem. “Naquela época, a bicicleta era o principal meio de transporte das famílias. Quando chegava a época das festas, os pais iam até a loja para comprar bicicleta para os filhos. E a grande maioria pagava à vista. Fiado era uma palavra inexistente ainda. Só uns 5% ou menos é que comprava à prazo”, conta Vital Nunes da Silva, que atualmente está à frente do negócio da família junto com o irmão, Hugo Nunes da Silva.
Com o passar dos anos, a casa comercial teve ainda outros nomes: ‘A Monark’, ‘Monarca Peças’ e ‘Monark Peças’ até chegar ao nome atual. Mesmo assim, por muito tempo o estabelecimento era conhecido apenas como “a loja do Zé Nunes”, que até a década seguinte se dividia com os filhos entre o trabalho na roça, plantando fumo, e as vendas na loja.
A seca registrada no início da década de 1970 fez com que o patriarca da família Nunes desistisse do plantio de fumo e passasse a comprar a produção de pequenos agricultores, como muitos fizeram na época. Três anos depois, quando o preço do fumo estava valorizado novamente, vendeu tudo e investiu na loja, que passou a ser o negócio da família, que estava chegando a sua melhor fase.
“Em 1973 eu era jovem, mas já trabalhava na loja. O meu trabalho era montar as bicicletas Monark, deixa-las reguladas para entregar ao comprador. Naquele ano, eu montei e vendi 1.230 bicicletas. O caminhão chegava carregado de São Paulo e os clientes já estavam na porta da loja esperando”, conta Vital Nunes.
Mas a cidade foi se desenvolvendo, os caminhos de terra se transformaram em ruas e avenidas, que foram pavimentadas, devido a popularização dos carros. A bicicleta não era mais o principal meio de transporte das famílias e atualmente se tornou instrumento para a prática esportiva. As bicicletas Monark modelo barra circular ainda têm alguma saída, mas as bikes fabricadas com materiais tecnológicos são as que mais têm saída atualmente. E mesmo com as mudanças, a Nunes Ciclopeças permanece como referência, não só para Arapiraca, mas para cidades circunvizinhas e até regiões de Pernambuco e Sergipe.
“Uns 20 anos atrás chegou um concorrente, entre aspas, de Pernambuco, que disse que iria abrir a loja dele e quebrar a gente. Fui com ele até a calçada e falei: Olha para esse sol, Deus deu de graça para todo mundo. Debaixo dele, ninguém sobrevive querendo derrubar os outros. Resultado: a loja dele não durou três anos. Ele saiu como meu amigo e eu comprei tudo dele”, relata o comerciante, que continua, “No comércio, existe espaço para todo mundo. Se você tem produto, bom atendimento e preço justo, vai ter espaço para você”, afirma.
Para Vital Nunes, a principal marca da Nunes Ciclopeças, em 64 anos de existência, é a honestidade. “Se o cliente chega aqui e eu não tenho o que ele precisa, eu indico onde ele pode encontrar. Não vou empurrar um produto que eu sei que não é adequado só para não perder a venda. O cliente sabe disso e volta à loja depois porque ele sabe que pode confiar”, declarou.
Legenda: José Nunes, acompanhado de representante da Monark, de clientes e do filho Vital Nunes
Crédito: acervo pessoal
(Matéria publica no portal do Sindlojas Arapiraca, em 03/09/2024, às 8:50 am)
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